Na irrefutável necessidade do amor (já era
quase primavera) Pedro e Ana marcaram um encontro galante, quando passavam e
perpassavam no azul do Rio de Janeiro.
Era bem manhãzinha.
- As quatro em ponto me casarei contigo
no mais alto beiral – disse Pedro.
- Candelária? Perguntou a noiva.
- Do lado norte. – respondeu ele.
- Tá. – assentiu Ana, com alegria e
pudor, pois as quatro azul em ponto, Ana pontualíssima chegava no beiral.
Pedro? Pedro não.
Ana que era branca se exagero,
cantarolava, humilhada e ofendida com o atraso, contemplando acima do
campanário todas as possibilidades da rosa-dos-ventos. Mas na paisagem do céu
voavam, apenas, velozes andorinhas garotas, porque as velhas andorinhas
enfileiravam-se cornijas, pensando na morte, como gente fina, lá dentro, nos
dias solenes de missa de réquiem.
Quatro e dez. Quatro e um quarto, Ana
sozinha a mercê quem sabe de um ladrão, remoto, mas possível. Sol e sombra,
como custa a passar um quarto de hora para uma noiva que espera o noivo no mais
alto beiral. Como se humilha em revolta a noiva branca.
Ah, Ana cantarolou de repente, quando distinguia,
indignada, Pedro que chegara caminhando pelo beiral mais alto, do outro lado,
lá onde, um pouco além, gritavam as esganadas gaivotas do mar pardo do mercado.
Irônica, Ana pergunta:
- Perdeste a noção do tempo?
- Perdão, por Deus, perdão – respondeu Pedro:
- Tardo mais ardo. Olha que tarde!
- Que tarde – replicou Ana:
- Sozinha aqui em cima!!!
- A tarde era tão bonita – disse Pedro –
A tarde estava tão bonita que era um crime vir de ônibus.
- Mas e eu?! – Queixava-se Ana.
- A tarde era tão bonita – explicou
Pedro com doce paciência – que eu vim andando, tinha de vir andando, andando
meu amor.