Estava
escuro, apenas a débil claridade do luar atravessava a janela, deixando a sala
numa misteriosa penumbra. Aproximou-se hesitante, procurando não fazer qualquer
barulho. Parou, olhou para os lados, coçou a cabeça e seguiu, ainda com passos
tímidos. Sobre a mesa jazia a ceia: restos de pão, queijo, presunto e alguns
copos. Ao avistar o alimento, o passo lento acelerou-se, transformando-se em
eufórica correria. Há muito tempo não comia coisas tão gostosas. Primeiro,
atacou o queijo - como era bom aquele leite coalhado sólido! - em seguida, o
presunto - a carne de porco defumada era divina! Por último, experimentou o
pão, o mais insípido dos alimentos à mesa, mas tão vital e sagrado quanto
qualquer outro. Por um bom tempo pôde se fartar. Há muito não sentia aquela
sensação de estômago cheio, maravilhosa! O banquete havia saciado sua fome e
lhe atiçado a sede, precisava beber alguma coisa rapidamente. Aproximou-se
vagarosamente do copo, sentindo seu corpo pesado. Cheirou-o. Não conseguiu
identificar o líquido, mas sabia que não se tratava de água. Devagar, com
receio de se arrepender, experimentou. Não era ruim, mas tinha um gosto
levemente amargo. Bebeu mais um pouco, até matar a sede. Caiu. Por um instante,
pareceu perder os sentidos. Espantou-se. Nunca lhe havia acontecido aquilo.
Talvez fosse a bebida desconhecida. Ainda trôpega, procurou a saída, mas as
coisas pareciam não estar mais nos mesmos lugares de quando chegara; elas
giravam. Ao ouvir um ruído estranho, ficou paralisada de terror. O barulho
aumentou, porém, ela continuou imóvel. De repente, uma luz foi acesa.
Imediatamente, para se salvar, correu para a direção em que estava virada.
Ouviu um estrondo terrível atrás de si. Desceu rapidamente e se enfiou num vão
apertado, onde mal cabia. Sentiu que tudo tremia e, quase esgotada, tentou se
segurar, para não perder o equilíbrio, mas não adiantou. Caiu. Antes de estar
completamente perdida, percebeu um lugar escuro que podia ser sua última chance
de salvação. Tentou correr para lá, mas uma chinelada colossal, que abalou a
casa inteira, esmagou-a impiedosamente.
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