domingo, 16 de março de 2014

Sem assunto

Já ouvi dizer que todo (aquele que se acha um) cronista tem seu dia. Inevitavelmente ele chega. Arrebata a inspiração e o faz rabiscar páginas do que poderia ter sido e evidentemente não foi. E como não costumo fugir às regras, eis que chegou o meu dia! Falar da falta de assunto - convenhamos - parece até coisa do velho Braga, mas é a verdade... Desde a manhã, sofro com a idéia de nada ter a dizer. 
Entrei no ônibus lotado. Mesmo desanimado, procurei algo de que poderia sair-me uma crônica... Que ilusão! Nada que a valesse. E depois, este negócio de lotação deixa o passageiro sem jeito, não é daí que surgem os bons textos. Bem que eu poderia começar mais ou menos assim "Andar de ônibus é sempre um divertimento, ainda mais quando está repleto de passageiros, etc". Não. Não, o leitor que anda de ônibus me acharia irônico, e eu não quero parecer inverossímil. 
À tarde, no trabalho, alguém se lembrou de assoviar um samba-enredo, demonstrando intimidade com o ritmo e, por que não, com a letra. Foi então que pedi: - Ô, Lucas, canta um pedacinho da música para eu lembrar, por favor. 
Na realidade, conhecia a canção, só estava mesmo interessado em escrever sobre o ato: alguém que assoviava "explode coração na maior felicidade...", enquanto trabalha para receber um salário nada cristão. Nova desilusão! Achei que uma crônica sobre os baixos salários, além de monótona, poderia lembrar artigos político, irreverência, pessimismo ou coisa que o valha! E o que isso tem a ver com o samba? 
É noite. Se ao menos uma lua branca ofuscasse as lâmpadas da rua, eu odiaria escrever algo sobre o luar... Acho que estou ficando muito romântico para o momento em que vamos... E então? Ninguém observa a palidez da lua no século XXI? Mais rabiscos... Ridículos! 
Ora, não era nada disso que eu tencionava dizer... é que esse brilho penetra a alma; mas estou lúcido, não sou poeta, nem leio nada da belle époque. Para o bem do leitor vai passar. 
Assim espero.

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