domingo, 16 de março de 2014

CONSCIÊNCIA

“O homem se acha entre duas superfícies de estímulos. Por intermédio da periferia sensorial, o meio dele solicita atos de adaptação ou de apreensão imediatas. Mercê do córtex cerebral, desenvolve o mundo da representação, das situações ideais, dos motivos inaturais. (Wallon, 197)”:

Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.
(MARX — O 18 Brumário de Luís Bonaparte)

Colocado no mundo, sem saber de onde vem, nem para onde vai, o homem conhece o peso da existência principalmente por essas duas necessidades em torno das quais se reúnem todas as outras: a necessidade de alimentar-se que se faz sentir por intermédio da fome, e a necessidade de aprender, menos ativa, porém mais elevada, resultante das funções intelectuais. Assim pode-se admitir duas vidas distintas na existência humana: a vida do corpo que é sua face externa e a vida do espírito que é sua face interna subjetiva.
A reconstrução do corpo se opera por meio da nutrição; a do espírito por meio do conhecimento, de modo que o trabalho que garante o desenvolvimento material e o estudo que garante o desenvolvimento da vida do espírito, são as condições de todo o progresso.
Ora, o conhecimento adquire-se mediante esforços contínuos. A humanidade encontra dificuldades enormes em sua marcha ascendente e é só depois de mil tentativas inúteis e não rara vez com grandes sacrifícios que vai conseguindo aumentar o tesouro de seus conhecimentos; e ainda assim a verdade que lhe serve de guia, acha-se ordinariamente cercada de uma infinidade de erros.
Daí lutas contínuas, por tal modo que a história, pelo menos no que tem relação com o movimento intelectual, não é mais que a história das lutas constante da verdade contra a superstição e o erro. Resulta-se, portanto, o visível mal estar geral refletido no estado de perturbação e ansiedade que se acham presentemente reduzidos todos os povos.
Mas, todavia, não pode o homem, em virtude desse fato, esmorecer e julgar que para si mesmo e o mundo não há salvação e que a humanidade caminha em direção a um fim caótico e sem volta; mas, ao contrário, o homem tem o direito e o dever de buscar uma solução para os embates da vida, percebendo que se veio ao mundo desconhecido de si, é causa isso somente do estado de ignorância em que se encontra.

A natureza tem o seu maior enigma no próprio homem, pois para o homem ela existe, como também é voltada para ele a sua própria finalidade; finalidade esta, que deve ser encontrada na indagação do significado real da imensidão que o cerca, como também, na interrogação dos segredos da consciência, de maneira que possa o homem, compreender a parte que está representando no mundo.
Pelo aspecto físico ou materialista, entendemos o mundo como ele nos representa fisicamente, o que compreende sua natureza externa, palpável, em cuja face abriga a humanidade e onde essa realiza sua luta pela sobrevivência. Já pelo aspecto subjetivo, que é o aspecto fundamental a ser estudado; compreende-se basicamente na função de trazer à luz da consciência, a finalidade mesma do mundo e da função ao qual o homem está predestinado a cumprir.
Entendemos, pois, que o destino do homem, como o destino do espírito em geral, é aperfeiçoar-se, e dar maior extensão possível às suas energias, e alcançar em todas as manifestações de sua atividade, o mais alto grau de desenvolvimento; numa palavra é dominar; mas é preciso distinguir duas espécies de domínio: o domínio do homem sobre a natureza e o domínio do homem sobre si mesmo.
O primeiro alcança-se pelas ciências da matéria, o segundo, pela ciência do espírito. Logo, podemos seguramente conceber, à luz da razão, que a finalidade primordial do homem no mundo é conhecer, e que, por conseguinte, a finalidade do mundo que o abriga é existir para o conhecimento.
Para finalizar despeço-me com umas das principais meditações de Farias Brito:

"Há, pois a luz, há a natureza e há a consciência.
A natureza é Deus representado, a luz é Deus
em sua essência e a consciência é Deus percebido".

Raimundo de Faria Brito um dos maiores expoentes da filosofia brasileira


Raimundo de Farias Brito, escritor e filósofo brasileiro, nasceu em São Benedito, Estado do Ceará, em 1862; entre várias de suas obras destacamos "A Filosofia Como Atividade Permanente do Espírito Humano" e "Finalidade do Mundo", onde notamos acentuado esforço pela busca da verdade.

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