“O
homem se acha entre duas superfícies de estímulos. Por intermédio da periferia
sensorial, o meio dele solicita atos de adaptação ou de apreensão imediatas.
Mercê do córtex cerebral, desenvolve o mundo da representação, das situações
ideais, dos motivos inaturais. (Wallon, 197)”:
Os homens fazem
sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob
circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as
gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.
(MARX — O 18 Brumário de Luís Bonaparte)
(MARX — O 18 Brumário de Luís Bonaparte)
Colocado no mundo, sem saber de onde vem,
nem para onde vai, o homem conhece o peso da existência principalmente por
essas duas necessidades em torno das quais se reúnem todas as outras: a
necessidade de alimentar-se que se faz sentir por intermédio da fome, e a
necessidade de aprender, menos ativa, porém mais elevada, resultante das
funções intelectuais. Assim pode-se admitir duas vidas distintas na existência
humana: a vida do corpo que é sua face externa e a vida do espírito que é sua
face interna subjetiva.
A reconstrução do corpo se opera por meio
da nutrição; a do espírito por meio do conhecimento, de modo que o trabalho que
garante o desenvolvimento material e o estudo que garante o desenvolvimento da
vida do espírito, são as condições de todo o progresso.
Ora, o conhecimento adquire-se mediante
esforços contínuos. A humanidade encontra dificuldades enormes em sua marcha
ascendente e é só depois de mil tentativas inúteis e não rara vez com grandes
sacrifícios que vai conseguindo aumentar o tesouro de seus conhecimentos; e
ainda assim a verdade que lhe serve de guia, acha-se ordinariamente cercada de
uma infinidade de erros.
Daí lutas contínuas, por tal modo que a
história, pelo menos no que tem relação com o movimento intelectual, não é mais
que a história das lutas constante da verdade contra a superstição e o erro.
Resulta-se, portanto, o visível mal estar geral refletido no estado de
perturbação e ansiedade que se acham presentemente reduzidos todos os povos.
Mas, todavia, não pode o homem, em virtude
desse fato, esmorecer e julgar que para si mesmo e o mundo não há salvação e
que a humanidade caminha em direção a um fim caótico e sem volta; mas, ao
contrário, o homem tem o direito e o dever de buscar uma solução para os
embates da vida, percebendo que se veio ao mundo desconhecido de si, é causa
isso somente do estado de ignorância em que se encontra.
A natureza tem o seu maior enigma no
próprio homem, pois para o homem ela existe, como também é voltada para ele a
sua própria finalidade; finalidade esta, que deve ser encontrada na indagação
do significado real da imensidão que o cerca, como também, na interrogação dos
segredos da consciência, de maneira que possa o homem, compreender a parte que
está representando no mundo.
Pelo aspecto físico ou materialista,
entendemos o mundo como ele nos representa fisicamente, o que compreende sua
natureza externa, palpável, em cuja face abriga a humanidade e onde essa
realiza sua luta pela sobrevivência. Já pelo aspecto subjetivo, que é o aspecto
fundamental a ser estudado; compreende-se basicamente na função de trazer à luz
da consciência, a finalidade mesma do mundo e da função ao qual o homem está
predestinado a cumprir.
Entendemos, pois, que o destino do homem,
como o destino do espírito em geral, é aperfeiçoar-se, e dar maior extensão
possível às suas energias, e alcançar em todas as manifestações de sua
atividade, o mais alto grau de desenvolvimento; numa palavra é dominar; mas é
preciso distinguir duas espécies de domínio: o domínio do homem sobre a
natureza e o domínio do homem sobre si mesmo.
O primeiro alcança-se pelas ciências da
matéria, o segundo, pela ciência do espírito. Logo, podemos seguramente
conceber, à luz da razão, que a finalidade primordial do homem no mundo é
conhecer, e que, por conseguinte, a finalidade do mundo que o abriga é existir
para o conhecimento.
Para finalizar despeço-me com umas das
principais meditações de Farias Brito:
"Há,
pois a luz, há a natureza e há a consciência.
A natureza é Deus representado, a luz é Deus
em sua essência e a consciência é Deus percebido".
A natureza é Deus representado, a luz é Deus
em sua essência e a consciência é Deus percebido".
Raimundo de Faria Brito um dos maiores
expoentes da filosofia brasileira
Raimundo de Farias Brito, escritor e
filósofo brasileiro, nasceu em São Benedito, Estado do Ceará, em 1862; entre
várias de suas obras destacamos "A Filosofia Como Atividade Permanente do
Espírito Humano" e "Finalidade do Mundo", onde notamos acentuado
esforço pela busca da verdade.
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