segunda-feira, 12 de maio de 2014

DOS DELITOS E DAS PENAS: Cesare Beccaria

RESUMO

Procuramos destacar os aspectos mais importantes da clássica obra de Beccaria, “Dos Delitos e das Penas”, fazendo-se uma passagem pela bibliografia do autor.

                                                                                        
Como dizia Machado de Assis[1]: “Editar obras jurídicas ou educacionais não é difícil; a necessidade é grande, a procura, certa”. O caso do livro “Dos Delitos e das Penas”, de Cesare Beccaria, se encaixa perfeitamente na máxima que preconiza a facilidade em comercializar e difundir as ideias sociojurídicas.
Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, nasceu a 15 de março de 1738, na cidade de Milão. Por aquelas plagas sempre se destacou. Educado em Paris pelos jesuítas, entregou-se com entusiasmo ao estudo da literatura e das matemáticas. Muita influência exerceu na formação do seu espírito a leitura das Lettres Persanes de Mostesquieu e de L’Esprit de Helvétius.
Formou-se em Direito pela Universidade de Parma em 1758, mas seus ensinamentos perduram até a nossa contemporaneidade. Em 1763, quando iniciou seu labor no preparo da confecção do livro ora exposto, ganhou notoriedade ao dar o primeiro grito de revolta contra as brechas desumanas do sistema penal daquela época.
Desde então, todas as suas preocupações se voltaram para o estudo da filosofia. Foi ele um dos fundadores da sociedade literária que se formou em Milão e que, inspirando-se no exemplo da de Helvétius[2], divulgou os novos princípios da filosofia francesa. Além disso, a fim de divulgar na Itália as ideias novas, Beccaria fez parte da redação do jornal Il Caffè, que apareceu de 1764 a 1765.
Foi mais ou menos por essa época que, insurgindo-se contra as injustiças dos processos criminais em voga, Beccaria principiou a agitar com os seus amigos, entre os quais se destacavam os irmãos Pietro e Alessandro Verri[3], os complexos problemas relacionados com a matéria.
Assim teve origem o seu livro Dei Delitti e delle Pene. Receoso de perseguições, o autor mandou imprimir sua obra secretamente, em Livorno, e ainda assim velando muitos pensamentos com expressões vagas e indecisas.
O tratado Dos Delitos e das Penas é a filosofia francesa aplicada à legislação penal: contra a tradição jurídica, invoca a razão e o sentimento; faz-se porta-voz dos protestos da consciência pública contra os julgamentos secretos, o juramento imposto aos acusados, a tortura, a confiscação, as penas infamantes, a desigualdade ante o castigo, a atrocidade dos suplícios; estabelece limites entre a justiça divina e a justiça humana, entre os pecados e os delitos; condena o direito de vingança e toma por base do direito de punir a utilidade social.
Declara a pena de morte inútil e reclama a proporcionalidade das penas aos delitos, assim como a separação do poder judiciário e do poder legislativo. Nenhum livro fora tão oportuno e o seu sucesso foi verdadeiramente extraordinário, sobretudo entre os filósofos franceses. O abade Morellet[4] traduziu-o, Diderot[5] anotou-o, Voltaire[6] comentou-o. d’Alembert[7], Buffon[8], Hume[9], Helvétius, o barão d’Holbach[10], em suma, todos os grandes homens da França manifestaram desde logo a sua admiração e seu entusiasmo.
Em 1766, indo a Paris, Beccaria foi alvo das mais vivas demonstrações de simpatia. No entanto, tendo regressado a Milão, cidade que ele não mais abandonou, teve de sofrer uma campanha infamante por parte dos seus adversários, que ainda se apegavam aos preconceitos e à rotina para acusá-lo de heresia.
A denúncia não teve consequências, mas Beccaria ressentiu-se de tal forma que o receio de novas perseguições levou-o a renunciar às dissertações filosóficas.
Em 1768, o governo austríaco, sabedor de que ele recusara as ofertas de Catarina II[11], que procurara atraí-lo para São Petersburgo, criou em seu favor uma cátedra de economia política.
Beccaria morreu em Milão, em 1794.
Diante de seu comportamento impertérrito, Cesare sofreu várias perseguições, cominando inclusive na acusação de que ele era extremamente herético, título este naquela época causava um enorme desconforto para o cotidiano de uma pessoa.
Sua inteligência e sensibilidade para alavancar assuntos jurídicos lhe premiam até hoje com inúmeros leitores assíduos de suas obras. Suas palavras ecoam no universo caminhando por quase 300 anos, mas parecem tão hodiernas quanto as escrituras atuais.
Logo na gênese do seu indelével “Dos Delitos e das Penas”, Cesare nos demonstra com estesia e de forma sábia sua percepção sobre poder e sociedade: “Entretanto, numa reunião de homens, percebe-se a tendência contínua de concentrar no menor número os privilégios, o poder e a felicidade, e só deixar à maioria miséria e debilidade.”[12]
Reparem na consciência que Beccaria possuía e, mesmo que de maneira discreta, deixou tipograficamente grafado para a posteridade a sua visão e seu pensamento a respeito do desprezo pela maioria humilde da sociedade. Devemos atentar que, há aproximadamente 300 anos, essa ideia da concentração de rendas e privilégios entre os poderosos já imprimia certa rotina, na nublada e arcaica Itália.
Continuando a leitura desse clássico, página à frente nos deparamos com o ensino profícuo de Beccaria em referência à Lei. Ele reverencia a Lei, demonstrando de forma cabal que nada nem ninguém deve ser maior que a Lei. A Lei, depois a Lei, e a Lei, para só depois se usar dos institutos auxiliares do Direito. Cesare naquele momento hasteava de forma brilhante a fulgurante bandeia do Estado Democrático de Direito. Beccaria asseverou:
“E a partir do momento em que o juiz se faz mais severo do que a lei, ele se torna injusto, pois aumenta um novo castigo ao que já foi prefixado. Depreende-se que nenhum magistrado pode, mesmo sob o pretexto do bem público, aumentar a pena pronunciando contra o crime de um cidadão.”[13]
Ele entendia que a prática política ou social de majorar punições ou criar novas atitudes senão por força legal atentaria diretamente contra a sociedade e contra o sistema jurídico, ultrajando, assim, a segurança que o cidadão deveria ter nos seus representantes.
Prosseguindo dedilhando a obra de Beccaria, encontramos uma sentença pela qual ele afirma que a sociedade romana deveria ser exemplo para as demais no quesito “respeito às decisões judiciais”.
“Entre os romanos, quanto cidadão não vemos, acusados de crimes bárbaros, mas em seguida serem reconhecidamente inocentes [pela Justiça], receberem do amor do povo, os primeiros cargos do estado?”[14]
E prossegue: “Um homem não pode ser considerado culpado antes da sentença do juiz; e a sociedade apenas lhe pode retirar a proteção pública depois que seja decidido que ele tenha violado as normas em que tal proteção lhe foi dada”[15]
Mais uma vez ele reforça que as decisões judiciais devem ser respeitadas e serem modelos de segurança para a sociedade. Mormente, devemos comentar que tal prática só será realmente aplicada quando a sociedade acreditar que as nossas cortes e nossos aplicadores de Direito são homens e justos.
Apreciando cada vez mais a leitura do livro, vemos o quanto Beccaria foi além, ele não se conteve somente em demonstrar o que acontecia por aqueles dias: emitindo sua opinião, ele lecionou modelos de conduta e formas de se buscar a justiça mais certeira e integral. Vejamos o que ele lecionava acerca dos testemunhos: “deve-se, portanto, conceder à testemunha maior ou menos confiança, na proposição do ódio ou da amizade que tem ao acusado e de outras relações mais ou menos estreitas que ambos mantenham”[16]
Podemos achar que tal ensinamento não passa de um requisito óbvio atualmente em nossos tribunais, quando o magistrado perquire acerca do parentesco, da afinidade, da amizade, e da discórdia, mas não esqueçamos que ele falava sobre isso nos negros dias do século XVI.
Ainda no capítulo testemunho, Beccaria exprime um comentário muito pertinente relativo a homens consociados a grupos ou fraternidades, vejamos: “Deve-se, igualmente, dar menos crédito a um homem que faz parte de uma ordem, ou de casta, ou de sociedade privada, cujos usos e máximas são geralmente desconhecidos, ou não são idênticos aos dos usos comuns, pois, além de suas próprias paixões, esse homem ainda tem as paixões da sociedade da qual é membro”[17]
Isso faz muita diferença quando ao funcionar em um processo a testemunha possui esses predicados excêntricos. A preocupação de Beccaria no estudo exaustivo dos delitos e das penas era idealizar no final uma sentença justa e pura.
O sonho de Beccaria era alcançar um dia em que o exame conjeturatório de um cidadão fosse pautado sob a correção íntegra de uma sociedade justa e sem máculas.
Ele mostrava muita preocupação no comportamento contumaz de seus concidadãos em caluniarem o próximo com o simples desejo de ver penas injustas e cruéis. Nesse âmbito ele exclamava: “Contudo, todo governo, seja republicano ou monárquico, deve aplicar ao que calunia a pena que infligiria ao acusado se fosse culpado”[18]
Essa seria a fórmula mais justa para coibir os excessos de calúnia naquele dado momento de comportamentos abusivos na sociedade.
Citamos mais acima no texto sobre a forma indelével que Beccaria defendia a importância e a realeza que possui a Lei; neste sentido ele liderou um movimento de vanguarda contra a tortura, e uma das bandeiras mais defendidas consistia que a Lei deveria ser o remédio para os males jurídicos da sociedade.
Nesta seara, Beccaria palestra: “Aí está uma proposição muito simples: ou o crime é certo, ou é incerto. Se for certo, apenas deve ser punido com a pena que a lei fixa, e a tortura é inútil, porque não se tem mais necessidade das confissões do acusado. Se o crime é incerto, não é hediondo atormentar um inocente? efetivamente, perante as leis, é inocente aquele cujo delito não está provado?[19]
O princípio da presunção de inocência já ansiado pelos quatro cantos, e nesta grafia Beccaria homenageia e ratifica um dos princípios com mais beleza existente em nossas Ciências Jurídicas. Também diagnosticamos nessas linhas a sua indignação diante da tortura, prática bastante conhecida em sua época. Neste sentido, Beccaria, com seu pensamento sociológico, demonstra de forma cabal a certeza da expressão: “violência gera violência”, senão vejamos: “Os países e os séculos em que se puseram em prática os tormentos mais atrozes são igualmente aqueles em que se praticaram os crimes mais horrendos.”[20]
Esta afirmação nos lembra a célebre frase de Alexandre Lacassagne, que apresentou a seguinte ideia: “A sociedade tem os criminosos que merece”.
Beccaria conseguiu condensar e demonstrar de maneira mais clara que as punições devem ser comensuradas no bojo da Lei, e que fora disso é temerário.
Para encerrar a profícua leitura desse clássico do italiano Cesare Beccaria, visualizamos a fórmula simples, clara, objetiva e certa em nossa opinião para iniciar o processo de restauração de nossa sociedade globalizada. Tal ensinamento realmente é digno de um encerramento a “chave de ouro”.
“Finalmente, a maneira mais segura, porém ao mesmo tempo mais difícil de tornar os homens menos propensos a prática do mal, é aperfeiçoar a educação.”[21]
Pitagoricamente permitindo-nos também imprimir a nossa visão e nossa efusividade em compartilhar da ideia de Beccaria, e consolido parafraseando Pitágoras, dizendo que “educando a criança, jamais será necessário punir o adulto”.[22]
Gostaríamos de findar o artigo proclamando: Cesare Beccaria, vós que é um jurisconsulto célebre, pode ter certeza que até os nossos dias também cinzentos do século XXI vossa excelência detém inúmeros epígonos buscando seu estilo exemplar de uma luta pela justiça.

Conclusão: Fundamentos do Direito Penal Moderno.

O sistema de relações sociais entre os homens produz um complexo aparelho jurídico e ideológico, por isso, é de fundamental importância uma visão global histórica e analítica dos ideais penais para a compreensão aprofundada da realidade penal.
Após a queda do Império Romano, se formou uma nova organização político-social, um espaço territorial autônomo. Neste, quem aplicava a pena aos delitos comuns era o próprio senhor feudal, por meio de critérios largamente arbitrários que redundavam com frequência na aplicação de penas cruéis.
O surgimento da burguesia enquanto classe social foi um dos acontecimentos mais notáveis que impulsionou a transformação do Direito, embora não tenha transformado especificamente o Direito Penal.
Que se fragmentou, regionalizando-se sem deixar de caracterizar-se pelo extremo rigor de suas penas e pelo modo arbitrário de sua imposição.
A emergência do absolutismo fez com que fossem progressivamente extintas as milícias locais enquanto expressão do poder político do senhor feudal. A guerra agora era de competência do Estado.
Nesse momento ocorreu a centralização do poder jurisdicional no âmbito do poder monárquico, surgindo a ideia de direito divino dos reis, que editou leis penais.
O Direito Penal absolutista obedecia ao mesmo princípio do medieval no que tange às espécies de crimes e as modalidades de pena aplicáveis pela transgressão dos preceitos incriminadores.
Os delitos eram classificados como de natureza pública e privada, apesar da importância da prova testemunhal no Processo Penal absolutista, a rainha das provas era a confissão do réu e, a tortura, o meio por excelência de obtê-las.
A pena teria que ser necessariamente cruel para que o castigo se mostrasse suficiente e aterrorizasse o povo de modo a impedi-lo de voltar a cometer crimes, transgredindo as leis.
O ideal liberal exigia o reconhecimento da existência d direitos naturais do indivíduo e da igualdade fundamentada entre todos os homens perante a lei, que passou a ser conhecida como fruto da vontade geral, produto da razão humana que fez com que surgisse o Estado de Direito.
O Direito Penal moderno é decorrente da influência do iluminismo que derivou os seus postulados. O Estado foi considerado como fruto de um contrato social formulado para garantir a liberdade, a igualdade civil e a propriedade privada.
A obra Dos Delitos e das Penas é considerada o marco de início do Direito Penal moderno. Para Beccaria existem três tipos de leis: divinas, naturais e positivas, que não devem estar em conflito, mas em harmonia, sendo as positivas o seu objeto de estudo.
O contrato social e a separação de poderes são de fundamental importância para o Estado Civil, a aceitação da existência de limites impostos pelo estado e o poder de punir sustenta o direito penal racional em sua opinião.
  
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Beccaria, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret.
Edição eletrônica: Ed. Ridendo Castigat Mores
Fonte Digital - www.jahr.org - Copyright ©




[1] Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.
Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.
Sua extensa obra constitui-se de nove romances e peças teatrais, duzentos contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas. Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, ortodoxamente conhecidas como pertencentes a sua segunda fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da Trilogia Realista.1 Sua primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do Romantismo, ou "convencionalismo", como prefere a crítica moderna.
Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público. Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Drummond de Andrade, John Barth, Donald Barthelme e outros. Em seu tempo de vida, alcançou relativa fama e prestígio pelo Brasil, contudo não desfrutou de popularidade exterior na época. Hoje em dia, por sua inovação e audácia em temas precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, estudiosos e admiradores do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante, Shakespeare e Camões.
[2] Claude Adrien Helvétius (Paris, 26 de fevereiro de 1715 - Paris, 26 de dezembro de 1771) foi um filósofo e literato francês. Filho de um médico de Luís XV, estudou com os jesuítas no colégio Louis-le-Grand. Aos 23 anos, obteve o cargo de caseiro geral, com uma boa renda que lhe permitiu levar uma vida sem problemas, frequentando os meios literários e artísticos. Casando-se, retirou-se para o campo, onde se dedicou à literatura. Hesitou muito tempo antes de encontrar o gênero literário que lhe convinha, até apresentar sua obra filosófica Do espírito. Devido sobretudo ao seu anticlericalismo, o livro foi condenado por uma carta apostólica do papa Clemente XIII, em 1759. Com isso, Helvétius resolveu nada mais publicar.
Em 1764 foi à Inglaterra e, no ano seguinte, à Prússia. A amizade com o enciclopedista Jean le Rond d'Alembert abriu-lhe as portas da Academia de Berlim. Deixou diversas obras publicadas postumamente, entre elas: Verdadeiro sentido do sistema da natureza e Do homem, das faculdades intelectuais e de sua educação. Este último, aliás, foi condenado pelo parlamento francês e queimado.
Influenciado pelas ideias de John Locke e Condillac, Helvétius pretendeu ampliar o empirismo às questões morais e políticas. Considerava que todas as ideias eram apenas afecções dos sentidos, não havendo qualquer faculdade especial de reflexão que fosse distinta das sensações. Essa fonte única de todo conhecimento servia de base para a doutrina ética e social segundo a qual todos os homens eram iguais e teriam as mesmas aspirações. Todos os comportamentos humanos seriam fundamentados no interesse - impulso para a obtenção do prazer e a eliminação da dor. Através da educação, os homens deveriam ser levados a fazer com que seus interesses individuais coincidissem com os interesses da coletividade. Mas para isso era indispensável combater os grandes obstáculos constituídos pelas superstições e preconceitos religiosos, fomentados, segundo Helvétius, pelo egoísmo da classe sacerdotal.
[3] Pietro Verri. Nascido em Milão, então sob austríaco regra, a uma conservadora família nobre, recebeu uma educação fortemente religiosa, a partir do qual começou a se rebelar quando ele chegou a casa dos vinte anos. Ele ofereceu-se para servir nas Guerra dos Sete Anos, a fim de escapar a decisão de seu pai para registá-lo para estudos jurídicos, mas desistiu depois de um ano. Em sua juventude, ele traduziu Destouches obras '(1754) e escreveu almanaques satíricas (Borlanda impasticciata, Gran Zoroastro e Mal di Milza), que escandalizou a sociedade Milanese. Em 1761, junto com seu irmão Alessandro, fundou uma associação literária, a Società dei Pugni ("Sociedade dos Punhos") e, a partir de 1764, publicou a revista Il Caffè ("o café"), onde cerca de 40 artigos de ele sobre vários assuntos apareceu e que se tornou uma referência importante no Iluminismo Milan. Outras figuras que escreveram sobre ele incluir seu irmão Alessandro, o famoso filósofo Cesare Beccaria, Alfonso Longo e Pietro Secchi. - Alessandro Verri (09 de novembro de 1741 - 23 de setembro 1816) foi um italiano autor.
Nascido em Milão em uma família aristocrática, como um jovem, ele participou da Accademia dei Pugni, fundada junto a seu irmão Pietro Verri e seus amigos Cesare Beccaria, Alfonso Longo, Pietro Secchi, Giambattista Biffi e Luigi Lambertenghi. Mais tarde, ele colaborou com a revista Il Caffè. Neste período ele escreveu o Saggio sulla Storia d'Italia ("Ensaio sobre a história italiana", 1761-1766).
[4] Dentro da tradição das artes da conversa, e na esteira de Jonathan Swift, o Abade Morellet, enciclopedista e frequentador assíduo dos salões do século XVIII, cioso de lutar contra 'a inclinação natural que nos leva continuamente à barbárie', publica no início do século XIX um curto ensaio. Nele denuncia e comenta certo número de erros nocivos ao prazer de conversar, tais como a desatenção, o hábito de interromper e de várias pessoas falarem ao mesmo tempo, o afã exagerado de mostrar-se espirituoso, o pedantismo, etc. Atualmente, a lista desses defeitos não parou de agravar-se. Uma reflexão sobre a arte de conversar impõe-se ainda mais. Pois, em vez de simplesmente desaparecerem, os modos de sociabilidade e diálogos assumiram novas formas, e compartilhar a fala continua a constituir um dos momentos fortes da existência.
[5] Denis Diderot (Langres, 5 de outubro de 1713 — Paris, 31 de julho de 1784) foi um filósofo e escritor francês. Nasceu na Champanha e começou sua educação formal no Colégio Jesuíta de Langres. Seus pais eram Didier Diderot (1685–1759), um cuteleiro, e sua esposa Angélique Vigneron (1677–1748). Três dos cinco irmãos de Diderot chegaram à idade adulta, Denise Diderot (1715–1797), Pierre-Didier Diderot (1722–1787) e Angélique Diderot (1720–1749).
A primeira peça relevante da sua carreira literária é Lettres sur les aveugles a l’usage de ceux qui voient (Cartas sobre os cegos para uso por aqueles que veem), em que sintetiza a evolução do seu pensamento desde o deísmo até ao cepticismo e o materialismo ateu, e tal obra culminou em sua prisão. Sua obra prima é a edição da Encyclopédie (1750-1772) ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers (Dicionário razoado das ciências, artes e ofícios), onde reportou todo o conhecimento que a humanidade havia produzido até sua época. Foi um dos primeiros autores que fazem da literatura um ofício, mas sem esquecer jamais que era um filósofo. Preocupava-se sempre com a natureza do homem, a sua condição, os seus problemas morais e o sentido do destino. Admirador entusiasta da vida em todas as suas manifestações, Diderot não reduziu a moral e a estética à fisiologia, mas situou-as num contexto humano total, tanto emocional como racional. Diderot é considerado por muitos um precursor da filosofia anarquista. Alguns estudiosos acreditam que, sob inspiração de sua obra, "A Religiosa", barbáries foram praticadas contra religiosos e freiras na Revolução Francesa de 1789 com o deturpado intuito de "protegê-los" contra os crimes praticados pela Santa Sé, há ainda um suposto dossiê encontrado por Georges May em 1954, que mostra a obra A religiosa como pura ficção e não um retrato da realidade.
Morreu em 31 de julho de 1784 e encontra-se sepultado no Panteão de Paris na França.
[6] François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (Paris, 21 de novembro de 1694 — Paris, 30 de maio de 1778), foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês. Conhecido pela sua perspicácia e espiritualidade na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio. É uma dentre muitas figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram pensadores importantes tanto da Revolução Francesa quanto da Americana. Escritor prolífico, Voltaire produziu cerca de 70 obras2 em quase todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas, romances, ensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais de 2 mil livros e panfletos. Foi um defensor aberto da reforma social apesar das rígidas leis de censura e severas punições para quem as quebrasse. Um polemista satírico, ele frequentemente usou suas obras para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo. Voltaire é o patriarca de Ferney. Ficou conhecido por dirigir duras críticas aos reis absolutistas e aos privilégios do clero e da nobreza. Por dizer o que pensava, foi preso duas vezes e, para escapar a uma nova prisão, refugiou-se na Inglaterra. Durante os três anos em que permaneceu naquele país, conheceu e passou a admirar as ideias políticas de John Locke.
[7] Jean le Rond d'Alembert (pronúncia francesa ʒɑ̃ batist ə ʁɔ̃ dalɑ̃bɛːʁ; Paris, 16 de novembro de 1717 Paris, 29 de outubro de 17831) foi um filósofo, matemático e físico francês, que participou na edição da Encyclopédie, a primeira enciclopédia publicada na Europa.
[8] Gianluigi Buffon (Carrara, 28 de janeiro de 1978), é um futebolista italiano que atua como goleiro. Atualmente, joga pela Juventus. Também conhecido como Gigi ou Superman, o atleta fez parte do elenco titular da Seleção Italiana, campeã da Copa do Mundo de 2006. Nesta competição, Buffon denunciou ao árbitro a cabeçada de Zinédine Zidane em seu companheiro Marco Materazzi, o que acarretou a expulsão do então meio-campista da França. Após a denúncia, pediu desculpas a Zidane, mas lhe explicou que aquela cabeçada merecia um cartão vermelho. Os dois amigos se conheceram na passagem do francês pela Juventus. Foi considerado pela FIFA, em 2013, o maior goleiro de todos os tempos. Ídolo da torcida da Juventus, ele mostrou amor eterno ao time da Vecchia Signora. A sua maior virtude fora dos campos é o carisma, sendo muito querido por todos os jogadores adversários. "Salta con noi Gigi Buffon" é o grito da torcida da Juventus. Foi envolvido, em dezembro de 2011, em escândalo de manipulação de jogos na Itália.
[9] David Hume (Edimburgo, 7 de Maio de 1711 – Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental. Hume foi um leitor voraz. Entre suas fontes, incluem-se tanto a Filosofia antiga como o pensamento científico de sua época, ilustrado pela física e pela filosofia empirista. Fortemente influenciado por Locke e Berkeley mas também por vários filósofos franceses, como Pierre Bayle e Nicolas Malebranche, e diversas figuras dos círculos intelectuais ingleses, como Samuel Clarke, Francis Hutcheson (seu professor) e Joseph Butler (a quem ele enviou seu primeiro trabalho para apreciação), é entretanto a Newton que Hume deve seu método de análise, conforme assinalado no subtítulo do Tratado da Natureza Humana – Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais.
[10] Paul-Henri Thiry, o Barão d'Holbach (8 dezembro de 1723 - 21 de janeiro de 1789) foi um autor, filósofo e enciclopedista franco-alemão, além de ter sido uma figura proeminente do Iluminismo francês. Ele nasceu como Paul Heinrich Dietrich em Edesheim, perto de Landau, no Eleitorado do Palatinato, mas viveu e trabalhou principalmente em Paris, onde mantinha um salão literário. Ele é mais conhecido por sua forte posição ateísta e por seus volumosos escritos contra a religião, sendo o mais famoso deles o Sistema da Natureza (1770).
[11] Catarina II, a Grande (em russo: Екатерина II Великая, transl. Yekaterina II Vielikaya, nascida Sofia Frederica Augusta de Anhalt-Zerbst; em alemão Sophie Friederike Auguste von Anhalt-Zerbst) Stettin, 2 de Maio de 1729 — Tsarskoye Selo, 16 de Novembro de 1796) foi uma imperatriz déspota russa de origem alemã que reinou entre 1762 e 1796. Era prima de Gustavo III da Suécia e de Carlos XIII da Suécia. Catarina subiu ao poder supostamente após uma conspiração por ela mesma elaborada que depôs o seu marido, o czar Pedro III, e o seu reinado foi o apogeu da Nobreza Russa. Pedro III, sob pressão da mesma nobreza, tinha já aumentado a autoridade dos grandes proprietários de terra nos seus mujique e servos. Apesar dos deveres impostos nos nobres pelo primeiro modernizador proeminente da Rússia, o czar Pedro I, e apesar das amizades de Catarina com os intelectuais do Iluminismo na Europa Ocidental (em particular Denis Diderot, Voltaire e Montesquieu), a imperatriz não considerava prático melhorar as condições de vida dos seus súbditos mais pobres que continuavam a ser ostracizados (por exemplo) por conscrição militar. As distinções entre os direitos dos camponeses nos estados votchine e pomestie desapareceram virtualmente na lei e na prática durante o seu reinado.
[12] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 15.
[13] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 20.
[14] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 27.
[15] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 37.
[16] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 31.
[17] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 32.
[18] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 34.
[19] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 37.
[20] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 30.
[21] BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martins Claret, p. 106.
[22] PITÁGORAS de Samos (em grego antigo: Πυθαγόρας Σάμιος, trans.: Ho Pythagóras ho Sámios – trad.: “Pitágoras o Samiano”, ou simplesmente Πυθαγόρας; Samos, entre ca. 571 a.C. e 570 a.C. — Metaponto, ca. 497 a.C. ou 496 a.C.) foi um filósofo e matemático grego. A sua biografia está envolta em lendas. Diz-se que o nome significa altar da Pítia ou o que foi anunciado pela Pítia, pois mãe ao consultar a pitonisa soube que a criança seria um ser excepcional.
Pitágoras foi o fundador de uma escola de pensamento grega denominada em sua homenagem de pitagórica. Teve como sua principal mestra, a filósofa e matemática Temstocléia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário