Quinze minutos para um novo dia.
Esqueço as dores que não sejam novas;
Deixo a noite entrar pela janela,
Como quem traz o tédio, como quem leva a vida.
Ando vagando pelo quarto sujo
E cada momento é um concerto fúnebre,
E cada segundo é choro ritmado.
(fecho os olhos turvos, para calar o tempo)
São quinze minutos:
Rebentam nos ouvidos
Latidos,
Gozos,
Gritos.
(vozes da madrugada, vozes de toda vida)
O meu corpo inteiro é um criado - mudo
E o meu coração canção desesperada,
Amanheci um rosto que me é estranho
E na pia, a louça ainda não foi lavada.
Vejo olhos noturnos num cavalo manco,
Há no corpo todo mãos que me dão nojo.
Vejo olhos cinzentos numa égua brava,
Há um casal que dorme em camas separadas.
Quinze minutos como é todo dia!
Quero esquecer as dores que já são antigas,
Ofereço a Deus a minha fome inferno,
Dou a minha alma e meu diabo escravo.
(vou tomar o vinho, que não há na casa, após encher de sangue a taça já quebrada)
Quinze minutos é retrato amargo,
Quinze minutos é o corpo faminto,
Quinze minutos não haverá mais nada,
Nem sonho ou alma,
A porta está trancada.
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