terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Um Calango para Zabé


Em um pequeno vilarejo reside uma negra senhora chamada Zabé que sobrevive comendo calango, mas é importunada por três meninos peraltas e sua rival Jurema, uma macumbeira que faz de tudo pra acabar com a Zabé.
  
Tadeu, Toninho e Tarcísio agachados embaixo da janela do quarto de Zabé, tramam.

TADEU: Não empurra, deixa de ser frouxo que ela tá dormindo. Esse Tarcísio é muito mole, vê só Toninho, a cara dele!
TONINHO: Fecha o danado, bando de abestalhado, se não ela joga água quente. Vocês não viram o que aconteceu com o Roquinho?
TARCÍSIO: Pois é Toninho, por isso que tenho medo. A véia Zabé não brinca em serviço e Tadeu fica aí fazendo zuada.
TONINHO: O negócio é o seguinte: hoje é sábado dia de feira e não é tempo de manga e nem de ciriguela pra gente vender, por isso a gente tem que descolar o trocado que ela prometeu.
TARCÍSIO: Mas quem é que vai falar com ela?
TADEU/TONINHO: Você molenga, você não é o inteligente?
TARCÍSIO: Eu não vou. Se ela jogar água quente, quem se lasca sou eu.
TADEU:
Deixa Toninho, se ele não for a gente vai e divide o dinheiro.
TONINHO:
Isso mesmo e depois... Adeus pião, bola de gude...
TARCÍSIO: Vocês dois são fogo! Tá bem eu vou, mas se ela jogar água quente em mim vocês tão lascados comigo.
TADEU: Deixa da tua safadeza! Taí feito rapariga é?
TONINHO: Vai lá Tarcísio, diz a ela que veio buscar o dinheiro dos calangos que pegamos ontem.
TARCÍSIO:
Mas ela vai se arretar porque só trouxemos quinze e ela falou que seria uns vinte.
TADEU:
Aquela bruaca véia vai se lembrar de coisa nenhuma, ela só vive com o tacho cheio de cana.
TARCÍSIO: Tá bem eu vou, Ô de casa! Ô de casa!
ZABÉ: Quem é que tá aí?
TONINHO: Psiu! É ela esconda-se!
ZABÉ:
Pelo jeito são esses condenados novamente. Que bixiga lixa eles querem desta vez (grita) Miro ou Miro! Isso é uma vida miseravi ter um marido só pra comer e cagá feito socó. Miro ou Miro!
MIRO: Que é Zabé! Vai dormir que teu má é sono. Já começou os pesadelo, foi? Vai deitasse se não eu vou quebrar essa tua cara véia.
ZABÉ: Sai pra lá coisa ruim, que véia é a tua mãe. Eu tô falando é sério, e home pra bater nessa cara bonita tem que nascer três veis.
MIRO:
Qualquer dia eu vou te mandar pra Piripá, pra casa de tua mãe, ou te interná num asílio.
ZABÉ:
Me deixa em paz e vai arrumar qualquer coisa pra Justino comer, que ele tá feito saci pegando frete.
MIRO: Tá fazendo o dever dele. Já to véio e já dei de comer a ele, agora ele que me dê também. E quer saber? Vou é sair.
ZABÉ: Te disconjuro peste, vai-te daná (varrendo o terreiro e cantando a música “vida de nego é difícil...”) Ontem sexta feira os miseravis só trouxeram quinze, mas hoje é sábado e eles vão aparecer já to sentindo o faro deles. (toma cana) Quinze não dá pra nada. (conta os calangos) Só Justino traça um bucado, é um bolo de farofa e lá vai um calango, Miro nem se fala. Eles tem que trazer mais.
TARCÍSIO: Bom dia dona Zabezinha! Como vai a senhora? Bonito dia tá fazendo, não tá?
ZABÉ: Se tão pensando em invadir minha casa pra pedir dinheiro a estrada é logo ali, ó!
TADEU: Dona Zabezinha, pelo que vejo a senhora não gostou muito da nossa caça, pois os calangos que peguemo onti ainda tão aí.
TONINHO: E além do mais, como podemos pegar mais calango, se os badoques da gente estão cheio de boqueira?
ZABÉ:
Conversa! Eu já conheço vocês, essa istória eu já conheço e vocês não vão me enganá.
TARCÍSIO: Dona Zabezinha, eu juro pela alma da mãe de Toninho e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Zabé é devota da Santa).
ZABÉ: Há! Se é por Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, porque vocês não falaram logo. Esperem aí vou buscar o trocado (sai).
TADEU:
Ôxe! Que conversa é essa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro?
TARCÍSIO: É que eu vi Dona Zabezinha e Jasmira rezando lá no terço da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na ladeira do Mutum.
TONINHO: Nossa Senhora do Perpétuo Socorro não é? Tive uma idéia! E ela agora tá na minha mão. (Zabé volta).
ZABÉ: Vou dar o trocado, mas vocês tem que me prometer que hoje de tarde vão trazer no mínimo 30 calango, por causo do batizado da cumadi Bastiana pra eu levar de tira gosto. Agora desapareçam que vou dormir (sai).
TADEU: Quanto ela deu Tarcísio?
TARCÍSIO: Dá pra comprar os piões?
TONINHO: Calma (conta) é pouco, mas acho que dá. Vamos pra feira que ainda vamos pegar os calangos.
TADEU: Mas como vamo conseguir tanto, me responde?
TONINHO: No lixeiro da Cesta do Povo tem bastante.
TARCÍSIO: Há! Esse batizado eu não vou perder de jeito nenhum. Quero ver somente a cara de dona Zabezinha.
TADEU: Mas vamos logo que já vai dar 08:00 horas, e tem muito chão pela frente.

MIRO, JUREMA E ROQUINHO
(Entra Miro senta no tamborete e conserta a tarrafa de pescar)

MIRO: Ai que dor nas costa da muléstia! Tenho que consertar essa tarrafa ainda hoje pra entregar ao compadre Bento. Não quero nem conversa mole com Zabé, senão ela vai me atrapaiá. Mulé muito maluvida. Essa jararaca anda com discursão com todo mundo da cidade, uma mulé já véia, deveria ter é vergonha na cara. Se eu não fosse tão doente ela ia vê, metia lhe o pau.
JUREMA: Isso mesmo seu Miro, uma cachorra velha que não tem vergonha na cara, tem que apanhar mesmo, mas não fique preocupado se o senhor não pode mete-lhe o pau tem gente de fibra pra quebrar a cara dela.
MIRO: Também não é assim dona Jurema... A Zabé pode ser o que for mais de qualquer jeito ela ainda é minha mulé. Precisa quebrar a cara dela não.
JUREMA: Não precisa? Olhe aqui a desgraceira que sua vadia fez na perna do meu minino. Conta a ele Roquinho. E tira a mão da boca desgraçado! E fala pra seu Miro, conte tudo a ele.
ROQUINHO: Mais minha mãe, deixe isso pra lá, se ela sair pra fora ela vai queimar minha outra perna. Vamo embora que minha perna tá doendo.
JUREMA: Doendo coisa nenhuma, vai bexiguento, conta!
ROQUINHO: Seu Miro, eu tava brincando aqui no terreiro. Eu tava pegando as bages de lã que tava caída no chão pra fazer um trabisseiro e quando eu tava de costa só vi um vurto preto com uma chaleira na mão, não deu tempo nem de eu correr, era a dona Zabé no coipo do satanáis, que jogou água felvendo na minha perna. Espie aqui ó! (chora). Ai minha mãe que dor da mulestra.
JUREMA: Tá vendo seu Miro? Uma coisa dessa não se faz nem com o satanáis, imagine com uma criança. Agora eu que me lasque pra escutar a latumia desse brôco chorando direto, e, ainda gastar meu trocado na farmácia de seu Felobônio.
ROQUINHO: Vamo...
JUREMA: Cale a boca!
ROQUINHO: Tá vendo, tá vendo, como a sinhora é ruim, eu todo cheio de dor, com minha perna latejando, pustemada e a senhora me manda calar a boca, não foi na perna da sinhora...
JUREMA: (Dá-lhe um tapa) Feche sua latrina seu safado, isso é jeito de falar com a sua mãe?
MIRO: Deix’ele dona Jurema, menino é assim mermo, Justino, quando era pequeno era a peste, aprontava com todo mundo e dava uma de santo.
ROQUINHO: Eu não tô aprontando com ninguém e também não sou a peste não, viu seu Miro?
JUREMA: Deixe de responder aos mais véi seu nojento, se não eu vou quebrar a sua cara. Mas o senhor diga a sua mulher que de hoje não passa, ela vai bater na delegacia. Não tenho nada contra o senhor, mas não gosto e nem vou com a cara dela, porque ela defama todo mundo, vévi dizendo que eu fico fazendo catimbó, e além do mais, tava com a besta fera no coro quando queimou a perna do meu minino.
MIRO: Sei não viu, qualquer dia vai ter um derramamento de sangue aqui, é muita confusão, muito disse me disse.
JUREMA: Vai ter derramamento de sangue sim, porque vou pegar a Zabé e vou sangrá-la, feito quem sangra galinha viva, amarro ela pelos pés e passo a faca.
ROQUINHO: Ai minha perna, minha mãe! Rumbora e deixe dona Zabé pra lá.
JUREMA: Te aquenta menino. Pera aí. Pera.
ROQUINHO: Entonse, eu vou na frente. (Jurema segura)
JUREMA: Na frente só se for do satanáis. Espere. (Roquinho fica de bico) E desmancha já esse bico, se ficar de bico vou quebrar a sua cara. Seu Miro tome cuidado! Fiquei escutando uns boato que Piripá inteiro tá desconfiado, que a Zabé sua mulé, tá lhe botando um par de galhas. Isso eu não tenho certeza porque não quero provar nada na delegacia e também odeio me meter na vida das pessoas.
MIRO: Ela não tá com a moléstia dos cachorro. Na minha famia dona Jurema, nunca teve corno e eu não vou ser o primeiro não, mais eu vou investigá, e se isso for verdade, eu mato ela.
JUREMA: Pois é, e tem mais. Ela anda falando por aí, que depois que o sinhô ficou doente, só sabe cagá e comer feito socó.
MIRO: É verdade que já to véio e doente, mas isso não dar o desfrute de Zabé fartar respeito comigo. Vai dar certinho pra o desmantelo dela.
JUEREMA: Tá bem, assunto encerrado. Vou pra casa, mas fale pra ela, que ela vai parar na delegacia. Rumbora Roquinho. (sai).
MIRO: Eu ia entrar pra dar um cochilo, mas pra evitar confusão acho é mió ir pro roçado. E se essa condenada tiver me botando gáia? Sei não viu... Não quero nem pensar. É mió eu ir pro roçado mermo. (sai).

(Zabé varre o terreiro cantando a música Mané e Zabé (Luiz Gonzaga), Jasmira entra).

JASMIRA: Bom dia Zabé! Como vai? Ainda tem da branca aí?
ZABÉ: Ôxe mulé! Pode faltar tudo menos a branca, toma aí vá (oferece cachaça).
JASMIRA: Há mulé! Vou te contar, tu vai adorar, você nem imagina, eu fiquei tão feliz, to toda arrepiada. Ver só que maravilha!
ZABÉ: Que bixiga lixa é? Deixa de frangage e desabafa de vez, parece até galinha do primeiro ovo.
JASMIRA: Ele vai ta lá, ele me falou na cacimba da Macaia. E hoje á noite vou colocar meu colar, aquela saia incarnada toda de pinça, minha blusa de uma alça só, sandalha de hippe. Vou arrazar nêga, tu vai ver só.
ZABÉ: Que mulé! Ou é doida ou é besta. Falou, falou, falou, e nem falou quem é o macho. Diz logo murrinha!
JASMIRA: É Beré, o pé de ouro da Fazenda Morrinhos. E hoje quando for meia noite vou mandar cumade Bastiana botar o disco predileto dele, e quando tiver tocando Marvada Pinga, ninguém me segura, vou dançar até o mocotó inchar.
ZABÉ: Mais ispia mermo... Ispia só! E tu tá pensando que fico de fora é? Vou colocar meus brinco de ouro, minha pulseira de couro, meu vestido longo amarelo catarro, vou espichar meu cabelo na madame Dinha, boto meu batom bunina, pinto meus zói com uma sombra não muito forte um azul anil, e vou cair na gandaia. Vou dançar até a festa acabar com Pipi, Beré eu não quero nem saber, ele só dança pisando no pé da gente. Hoje mermo encontrei ele de madrugada na zona.
JASMIRA: Ô mulé, o que danado tu fosse fazer na zona?
ZABÉ: Peraí! Vai de vagar que o andor é de barro. Tu ta pensando que sou rapariga é?
JASMIRA: Não é isso não! Mas nunca vi mulé direita entrar na zona.
ZABÉ: Eu tava na fila do INPS, fui pegar uma ficha pra doutor Samuel arrancar os caco pôde de Justino, aí vi Beré na entrada da zona, foi isso, tá satisfeita agora?
JASMIRA: Agora tô. Mas mudando de assunto, você vai levar cumpade Miro?
ZABÉ: Pra quê Jasmira? Pra me fazer vergonha é? Miro tá com o intistino froxo, e, só vevi peidando.
JASMIRA: Mas você é casada com ele mulé, como diz a certidão de casamento.
ZABÉ: Êita! Ela endoideceu de vez. Acorda mulé! Aquilo lá é certidão de casamento?... Aquilo é um atestado de órbito. Há muito tempo que Miro não é mais aquele (faz gestos) E eu sou muito nova.
JASMIRA: Mas mulé isso se chama adul... Adul... Adul... Sei lá! É gaia mermo.
ZABÉ: Mai ispia... Ispia só! Se isso for gaia, cumpade Popó deve tá andando com um pára-raio na cabeça.
JASMIRA: É diferente mulé, o Popó é alejado das pernas, por causo do acidente, sua tolinha.
ZABÉ: É, mas ele não é alejado da rolinha.
JASMIRA: Ah! Vamos parar com isso e vamos pensar no que levar pra tira gosto, pois eu tô preparando um aruá de côco que vai ficar delicioso, mas o que eu queria mermo era um assado de timbu, ficava chic, mas quem não tem cão caça com gato.
ZABÉ: Gato? É isso mermo! Porque não pensei nisso antes?... Gato...
JASMIRA: Zabé, Zabé! Não vai me dizer que você...
ZABÉ: Isso mermo menina inteligente.
JASMIRA: Eu não como, tenho nojo e faz vergonha levar.
ZABÉ: Que nada mulé! Depois de todos os tempero, todos os apreparo todos vai pensar que é galinha.
JASMIRA: Mas também se o povo descobrir, uma coisa fique certa: nós e que vamos virar galinha. Não, sinto muito, essa doidice faça você sozinha. Não quero passar vergonha, prefiro levar meu aruá de côco, é de pobe, mas todo mundo come.

Entram os meninos com um timbu como se fossem vendedores

TONINHO: Muito bem, muito bem pessoal! Compre, compre, direto da mata de Quelé esse delicioso timbu a preço de fábrica. Mulher bonita não paga, mas também não leva.
TADEU: Toninho, Toninho, que é isso? Vumbora, já é tarde e Tarcísio tá lá fora arretado com tua demora.
TARCÍSIO: Tava lá fora... E não sou palhaço pra ta esperando. Que palhaçada Toninho! Tu diz que vai cedo e a gente fica bestando é?
TONINHO: Fecha o danado seus nojento! Vocês demoraram que só a bixiga! E eu to feito rapariga? Olha aí o que peguei!
TADEU: Êita! Um timbu! Pegasse a onde?
TONINHO: Na preciosa da tua irmã Ritinha,
TADEU: Deixa de brincadeira, estou falando sério.
TARCÍSIO: É mesmo Toninho, onde você pegou? Ah! Já tô entendendo seu jogo. Dando uma de vendedor não é? Saquei tudo.
TADEU: Ah! Saquei também! Continua vendendo. (Os meninos envolvem a platéia vendendo o timbu pra chamar a atenção da Zabé e Jasmira).
ZABÉ: Êi, êi menino, que negóço é esse aí?!
TONINHO: Tudo bem dona Zabezinha?  É um timbu que nós peguemo.
ZABÉ: Melhor não podia estar. Que coisa linda!... Jasmira ispia só... É um timbu. Deus é maravilhoso não desampara os dele. Mostra aqui esse bicho, minino, (põe para o alto) parece que caiu do céu. (beija o timbu) quer vender por quanto? Fechamo negoço agora.
TONINHO: O dobro que a senhora nos deu hoje.
ZABÉ: Jasmira... (cochicha).
JASMIRA: (Põe a mão no sutiã e paga o timbu) Pronto! É nosso Zabé.
ZABÉ: Esse tá ótimo pra tomar com cana lá na festa, vamos logo preparar o desgraçado.
JASMIRA: Vamos, mas primeiro um gole da branquinha.
ZABÉ: Lá dento eu dou (saem e ficam os meninos).
TARCÍSIO: Engraçado, eu fico me perguntando, quem é mais cachaceiro? O timbu, ou dona Zabezinha e Jasmira? Vai gostar de cachaça assim na casa de Jurema.
TADEU: Por falar em Jurema, ela tava arretada da vida e falou pra todo mundo que ia dar um baile na Zabé no pingo do meio dia de hoje, porque o filho dela Roquinho, ficou com a perna toda queimada de água quente.
TONINHO: É, mas Roquinho é muito lerdo, ele viu a Zabé com a chaleira na mão e ficou imitando ela dançar e continuou tirando bage de lã verde, e sujando o terreiro da véia.
TARCÍSIO: Por falar em lã: olha só Toninho como o pé está cheio, vamos derrubar algumas bagem enquanto dona Zabezinha ta abestalhada com o timbu.
TADEU: Se eu fosse vocês não pensava nisso agora. A veia Zabé não é louca ela tem o maior ciúme nesse pé de lã.
TONINHO: Vai te atolar, tu só vévi tirando essas porqueiras.

TADEU: Tá bem, vamos lá. Me daí uma pedra, no meu saco não tem mais.
TARCÍSIO: Toma, pega aí. Mas vamos ficar calados. (Os meninos atiram pedras).
TONINHO: Pôxa Tarcísio! Tu tá com o olho aonde? Só taí derrubando as verde. E ajeita! (Agarra Tarcísio).
TARCÍSIO: Me solta fedorento! Me solta!
ZABÉ: Vocês ainda estão aí é? Não tirem lã que os caroço é pra comer torrado no café. (Os meninos continuam). Não tire lã, já disse, os caroço é pra comer torrado no café (tempo). Seus miserave! Não tire lã já falei. Miro, ô Miro! vem aqui, esses condenado tão aqui no meu terreiro. Agora vocês vão ver seus esprito zombeteiro (sai com uma chaleira na mão)...
TONINHO: Corre Tarcísio! Olha a água quente!
TARCÍSIO: Esperem por mim (saem os meninos).
ZABÉ: Jasmira socorro! Vem ver só... Ispia Jasmira, ispia mermo, ispia só. Que desgraça! Derrubaram as lã verde toda mulé.
JASMIRA: Calma mulé de Deus! Tem ainda muita lã. Vamos tratar o timbu, tem calma. Toma um gole da branquinha que acalma os nervo e faz bem pra o coração. Agora vamos entrar. (Entra Toninho e Tarcísio).
TARCÍSIO: Poxa! É demais meu irmão! Trinta calangos é dose pra elefante. O que é que a gente vai fazer pra conseguir uma quantidade tão grande?
TONINHO: Sei não, mas deve haver um jeito, temos que vencer essa peste na comida de calango.
TARCÍSIO: Mas como, se a gente bate o Record sempre, e a condenada sempre pede mais?
TONINHO: Tadeu foi vê o terreno e eu tenho um plano e acho que vai dar certo.
TARCÍSIO: Mas que plano? Não to sabendo de nada. Vocês estão me escondendo alguma coisa? Eu quero saber, pode ir falando.
TONINHO: Fica sem saber sua besta, na hora certa você vai ficar sabendo.
TARCÍSIO: Se é assim não conte comigo.
TONINHO: E eu vou contar com quem? Com a puta da tua tia é? Você vai, você entrou nessa porqueira porque quis. Vamos logo. (Agarra Tarcísio).
TARCÍSIO: Tu me solta! Me solta! Tá bem eu vou, mas no caminho vá me contando tudo.
TONINHO: Tudo bem, então vamos donzelo de titia.
JUREMA: Anda mulestrado! Venha! Quero mostrar pra aquela condenada o que ela fez com você. Anda menino e deixa da tua frescura.
ROQUINHO: Mais minha mãe, deixa isso prá lá, vamo pra casa.
JUREMA: Pra casa coisa nenhuma, quem se ferrou pra gastar dinheiro com remédio fui eu. Que menino maluvido, anda tinha! Taí pensando que cago dinheiro é?
ROQUINHO: Mais minha mãe, ela vai jogar água felvendo de novo.
JUREMA: Só se for no olho dela, avia miserave, anda gota!
ROQUINHO: Mais minha mãe, me deixe aqui e vá a sinhora só.
JUREMA: Então fica aí Zé cagão. E de hoje em diante se eu quero te vê acolonhado com aqueles três que tem parte com demo, vou te dar uma surra que tu vai ficar na água e sal. Fique aí me esperando tá me ouvindo?
ROQUINHO: Tá bem mãe, eu fico aqui esperando a sinhora.
JUREMA: É hoje e de hoje não passa. Aquela cachorra véia vai escutar e depois ela vai se lascar na delegacia, pra ela aprender a nunca mais jogar água quente numa criança. Ela tá pensando que pari Roquinho pelo fiofó, foi? Eu pari foi pela preciosa mermo. Que rapariga véia mais safada! Mas ela me paga. Hoje amanheci pelos zaveço e só saio daqui quando resolver essa situação. Ô de casa! Ô de casa!...
ZABÉ: (Off) Vai lá fora Jasmira, vai ver quem é que chegou com o cão no côro.
JUREMA: Quem chegou com o cão no côro foi a velha sua mãe. Não quero falar coisa nenhuma com Jasmira, quero falar é com você mermo sua rapariga veia safada. Vamos, vai saindo logo daí de dentro, que vou soltar todos os seus podres pra você nunca mais mal tratar uma criança.
ZABÉ: Mais olha só! Ispia mermo, ispia só! Vem defender seu satanais que ficou no meu terreiro atentando. E pra que você não deu educação a ele?
JUREMA: E tu tem educação, tem? Se tu tivesse educação não ficava batendo perna atrás de Pipi botando gaia em seu Miro.
ZABÉ: Olha lá! Não me tire do juízo! Que eu não quero perder a classe.
JUREMA: Já visse piranha que vévi abrindo as pernas pra os pião ter classe?
ZABÉ: Ispia só! Ispia, o discaramento da lacráia!... Vai te atolar alma penada e desaparece do meu terreiro catimbozeira safada. Tua vida é só fazer macumba e freqüentar teu terreiro de xangô. Eu não tenho o que tu ta querendo não.
JUREMA: Eu vou desaparecer mermo, mas você vai provar tudo na delegacia, me aguarde bruaca veia. Queimou a perna do menino e ainda quer ter razão.
ZABÉ: Eu tenho mais é o que fazer coisa do outro mundo. Vai pra delegacia, mas cuidado pra não ficar presa que o delegado já não suporta tua cara, nojenta!
JUREMA: Veremos condenada... Vou me embora daqui. Mas volto com a puliça..
TADEU: Poxa... Que dia hem! Trinta e um...
TARCÍSIO: Tô com as pernas doloridas.
TONINHO: Tadeu, quantos calangos você falou?
TADEU: Trinta e um.
TONINHO: Nada disso, trinta e dois olha lá.
TARCÍSIO: Mas aquilo não é calango, é uma lagartixa.
TONINHO: Isso mermo é a única maneira de vencer essa véia, me dar uma pedra.
TRACÍSIO: Mas ela ta bêbada e pode pegar uma doença de pele.
TONINHO: No mínimo um cobrero brabo (atira). Acertei, agora é só misturar com os calangos (mistura).
TADEU: Vou chamar a véia. Dona Zabezinha, ou dona Zabezinha!
ZABÉ: Que é? Quem me chamou? Trouxeram os calangos? Se for pouco desaparece, porque já falei, com Justino é assim, um bolo de farofa e um calango, outro bolo de farofa e outro calango.
TONINHO: Calma dona Zabezinha! Olhe aqui. (derrama).
ZABÉ: Ispia só! Ispia! Que maravilha! Olha só que delícia! Esse ta ótimo e esse ta tão veio que chega ta despelando, esse vou preparar pra o jantar de hoje, e mais esse aqui. Essa parte é de Justino, e essa é de Miro. É uma pena Jasmira ter ido embora, ela ia morrer de inveja.
TONINHO: Como é, vai pagar a gente?
ZABÉ: Tô com dinheiro aqui, tome e amanhã quero mais.
TONINHO: Ta bom dona Zabezinha até amanhã.
ZABÉ: (Analisa os calangos) Que bom parece até que caiu do céu, mas eu gostei mais desse aqui (ela percebe a lagartixa começa a se coçar em desespero) Vige minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro! Isso é uma lagatixa! Por isso que tô me coçando toda.  Eu sou alégica a esse troço. Justino socorro pega o álcool pelo amor de Deus! Vai logo, vai logo! Miro, ô Miro, Miro! Aqueles miserave!
MIRO: Que mulestra dos cachorro deu em tu mulé? Que sarna da gota serena é essa?
ZABÉ:
Pega o álcool rápido e passa na minha costa, ai que coceira! Foi os miserave com essa lagartixa, passa mais, passa mais. Aí... Tá passando, tá passando.
MIRO: Puxa! Que agonia, tu tava se coçando tanto que pra acabar com a agonia pensei em te fazer feliz, porque fiquei com pena de tu minha véia.
ZABÉ: Miro como você tá bonzinho, Mas como eu ia ficar feliz meu veio?
MIRO: Já imaginou minha veia, tu ensopada com álcool e eu riscando com todo meu amor um foscozinho... Acabava de vez todo teu sofrimento.
ZABÉ: Por que você não risca um foscozinho debaixo dos seus ovos, porque só assim quem sabe se seu pau não pega fogo, porque o que você sabe mermo é negar fogo.
MIRO: Tu não sabe é de nada, encontrei-me com a boca pôde quando tava vindo pra cá.
ZABÉ: Que boca pôde?
MIRO: A que você jogou água quente no fio dela, ela me falou que você tava lascada porque o camburão ia te leva hoje mermo.
ZABÉ: Mai ispia mermo, ispia só que atrevimento. Tô me cagando de medo. Pode ficar certo que ela é quem vai ficar presa.
MIRO: Como é que você tem tanta certeza?
ZABÉ: E não é sempre assim. Ela dar parte de tudo e de todos... Dá parte de todas as mulé da Fazenda Morrinhos e quando chega na delegacia o delegado diz: Você por aqui de novo? Não é pusive, Esteja presa! não é assim?
MIRO: Você se confia demais. Cadê Justino já chegou?
ZABÉ: Já falei que ele tava pegando frete no caminhão da prefeitura.
MIRO: E cumade Jasmira apareceu hoje?
ZABÉ: Apareceu e desapareceu.
MIRO: E cumade Dinha?
ZABÉ: Tá botando bobe na cabeça de uma freguesa dela.
MIRO: E o meu puçá pra eu pescar amanhã onde tá?
ZABÉ: Tá alí, tá cego é?
MIRO: E os... (Corta Zabé zangada).
ZABÉ: Ora gôta! Que diabo de pergunta, pergunta, pergunta, você é padre é, seu sapo choco. Vai prantar batata omim!
MIRO: Êita que mulé maluvida! Que mulestra! Onde eu tava com o a cabeça que me casei com essa cascavé. Eu não vou prantar batata, mas tô com vontade de prantar a mão na tua cara.
ZABÉ: Mas ispia... Ispia mermo, ispia só! Vai-te durmir que teu má sono, omim.
MIRO: Não vou durmir coisa nenhuma, vou é pra o roçado que é melhor que te agüenta, inté.
ZABÉ: Vai mermo, desaparece de vez, vai com Deus, se tu quiser ir com ele, se não quiser, vai com o diabo que te carregue. (Entra Jasmira correndo assustada).
JASMIRA: Zabé! Zabé! Zabé pelo amor de Deus! Valei-me Nossa Senhora! Zabé!
ZABÉ: Que bixiga lixa tu tem?
JASMIRA: Corre Zabé, corre que a puliça vem aí.
ZABÉ: Correr pra quê? Eu não robei, não matei, pra que correr, corro nada. Da minha casa não saio.
JASMIRA: Mas mulé de Deus! Tu jogasse água quente no fio da outra.
ZABÉ: Ele mereceu!

Entra Jurema arrastando Roquinho

JUREMA: Agora o circo vai pegar fogo. Ela pensava que eu não tinha corage pra dar parte dela, fui na delegacia e registrei a queixa. (Pra Roquinho) Tudo por tua causa, vai se ajuntar com quem não presta... E eu avisei, Roquinho, Roquinho, não se ajunta com aquele tal de Toninho e aqueles dois comparsas dele que tu te lasca. Você não quis escutar...
ROQUINHO: Mais mãe intenda eu.
JUREMA: (Grita) Cala a boca! Vamo andando que quero ver o camburão levar aquele pedaço de calvão.
JUREMA: (Roquinho sai correndo) Vou nada eu tenho medo da puliça.
JUREMA: Roquinho, ô Roquinho, volte aqui peste. Tem nada não chegar em casa ele tem o que merece. Vou dar lhe uma surra que ele vai se cagar todo. É hoje, e de hoje não passa. Eu a visei, eu avisei. Logo eu, que não vivo de bater boca, eu uma pessoa totalmente amada por todos da fazenda Morrinhos, vivo sempre na minha. Mermo depois de ser chamada de puta, de gaieira e ver meu minino com a perna queimada em carne viva, venho conversar com ela numa boa, educadamente, sem palavrão, sem pornografia, sou posta daqui pra fora e esquartejada como Tiradentes. Mas ela me paga, ah, se paga?! Ou eu não me chamo Jurema. Ela não disse que eu ia ficar presa? Tô aqui, linda e eterna como sempre fui. Mas vamos ao que interessa que não vim aqui pra concurso de beleza. Vim tomar as dores do meu Roquinho.
JASMIRA: Jurema, calma vamos conversar mulé, só se resolvi as coisa conversando.
JUREMA: Deixa de conversa e fica na tua bibelô de casa funerária, a conversa não chegou no teu cagador, ainda não?!. Fica na tua, senão tu também vai entrar em cana.
JASMIRA: Cruz credo! Eu não falei nada... Só queria ajudar.
JUREMA: Não falou nada não o quê? Você também é da laia dela, quer dar uma de santinha agora é? Vai logo embora senão vai sobrar pra tu também.
JASMIRA: Zabé sinto muito, mas não vou agüentar esses desaforos não, vou embora porque detesto baxaria.
JUREMA: Mas olha só que nojenta mais safada! Que todo mundo sabe das safadeza que essa piranha pratica na ladeira do Mutum com os guri, quando tão soltando papagaio...
JASMIRA: Eu não quero perder a classe, mas você fique sabendo sua catimbozeira duma figa, que depois que você roubou a calcinha de cumade Dinha e levou pra Jaboatão pra seu pai de santo fazer um trabalho, ela não parou mai de menstruar, e os médico já custuraro o danado dela cinco vez, mas não tem doutor que der jeito, e todo mundo sabe que foi catimbó que você fez sua cachorra. Eu não sei onde to que não meto a mão por cima da sua da tua cara, desgraçada, quenga, puta...
JUREMA: Puta é você, agora venha dar na minha cara de otária! Mulé de dois conto de reis.
JASMIRA: Posso ser mulé de dois conto de reis, mas não tenho olho grande no que é dos outros, infração.
JUREMA: Vai te lasca beuzebu. Você tem sete F na vida, você é Franga, Fresca, Fria, Falsa, Fedorenta, Falida e Filha da... Mas onde danado ta esse delegado que não chega?

Entra o delegado

URBANO: Muito bem, muito bem, considere-se presa dona Zabé.  Já é a segunda vez que recebo queixa da senhora por dona Jurema. Será que não tenho sossego com vocês nesta cidade? É um disse me disse uns fuxico safado, umas fofocas. Vou prender a Senhora.
JUREMA: Isso mermo seu delegado, aproveite e leve também essa amiga dela que me defamou em praça púbrica.
URBANO: Quem?
JUREMA: Essa coisa aí, Ó! (Aponta pra Jasmira).
JASMIRA: Mas seu delegado Urbano é o sinhô mermo? Meu Jesuis! O mundo é muito pequeno mermo! O sinhô não tá me reconhecendo?
URBANO: Meu Deus! Não é possível! Quanto tempo! O que estás fazendo aqui mulher? Como vai seu Popó?
JASMIRA: Popó depois do acidente, ficou de cadeira de roda, mas ta tudo bem com ele. Mas eu é que pergunto: O que tu tá fazendo aqui na cidade de Piripá? Saísse de Barra Funda, foi? Delegado Urbano, que prazer!...
URBANO: O prazer é todo meu. Fui transferido e estou tirando férias de um colega (Jurema vai saindo de fininho) E onde é que a senhora vai dona Jurema? A senhora ficou louca foi? Essa mulher é minha amiga a muito tempo e eu a conheço muito bem. A senhora está mentindo. Muita gente me falou da senhora e agora vejo que é verdade a senhora gosta mesmo de uma confusão. Se dona Zabé é amiga de Jasmira, já sei que é você que tá mentindo e arrumando confusão. Por isso se considere presa.
JUREMA: Mas seu delegado eu posso explicar.
URBANO: Sua reputação eu já conheço se considere presa e pronto, e, vamos andando. Na delegacia você se explica, e procure um bom advogado.
JUREMA: Ôxe! Ôxe! Eu fui dar parte desse pedaço de calvão e eu que vou presa? Vocês me pagam, vocês me pagam, suas raparigas.
URBANO: Vamos, vamos e deixe de conversar fiada, senão a senhora irá responder também por ameaça, difamação e calúnia.
JASMIRA:
Êita, que mulé de sorte da peste! Ainda bem que esse delegado é meu amigo.
ZABÉ: Não sou macumbeira, mas minha intuição de fêmea dizia que quem não deve não teme. Mas vamo logo embora pra o batizado e deixar o tira gosto pra lá, porque o que eu quero mermo é comemora, e dançar um forró.
JASMIRA:
Isso mermo, mas e a casa vai deixar assim?
ZABÉ: Assim como?
JASMIRA: Sem ninguém?
ZABÉ: E pra que existe Miro? Ele toma conta melhor do que eu. Agora vamos entrar pra dentro que eu vou pegar minha bolsa linda que comprei pra fazer inveja a essas mulé daqui da Fazenda Morrinhos. (saem).
ROQUINHO: (Chorando) Ai, ai, ai, ai, ai, deixe minha mãe seu delegado, prenda ela não. Vai não mãinha, vai não.
JUREMA: Tenha calma Roquinho. Vá pra casa abra a porta e entre pra dentro que já, já, tô de volta. Tá vendo o que o senhor tá fazendo com meu minino? Traumatizando meu filho.
URBANO: Quem tá traumatizando o menino é a senhora arrumando suas confusões. (pra Roquinho) Isso mesmo, faça o que sua mãe mandou, vá pra casa ou procure sua vó, sua tia, sei lá quem mais... Mas dona Jurema vai ter que me acompanhar e responder pelos seus atos na delegacia. Vamos andando dona Jurema.
JUREMA: Eu vou, mas me aguarde, vou procurar a justiça, um adevogado, a denfesoria pública... A murrinha!!! Vou lascar um processo e o senhor vai perder sua farda e seu posto de delegado.
URBANO: Isso é um desacato a uma autoridade! Vou algemar a senhora.
JUREMA: Precisa de algema não.
URBANO: Então, deixe de conversar fiada e vamos embora (saem).
ROQUINHO: Ai, ai, ai, ai, ai, minha mãe foi presa!!!
TONINHO: Ôxente! Que foi Roquinho? Por que essa latumia?
ROQUINHO: O delegado levou minha mãe presa por causo da dona Zabezinha e eu fiquei sozinho.
TONINHO: Oxe, oxe, oxe, deixa desse chororô e toda vez que ela vai dar parte, não é assim? Não te acostumasse não, foi?
ROQUINHO: Mais agora eu acho que ela num volta mais por cuaso que ela disse umas pilera pro delegado.
TONINHO: Vai voltar sim. Agora alimpa essa cara e vamo brincar com a gente.
ROQUINHO: Eu num vou não, que o Tarcísio e o Tadeu, fica cantando aquela cantiga pra mexer com eu, e, eles num gosta deu não. (Entram Tarcísio e Tadeu cantando a cantiga do Roquinho). Tá vendo Toninho, tá vendo, que eles dois só quer fazer arrelia de minha cara.
TONINHO: Parem suas duas quengas, não tão vendo que o minino precisa da nossa ajuda.
TARCÍSIO / TADEU: Tá bem Toninho, tá bem. Mas do que a gente vai brincar? (Entra Zabé e Jasmira).
JASMIRA: Êita Zabé, que bolsa bonita da gota! Combinou com o teu vestido!
ZABÉ: E hoje vou matar as madames da Fazenda Morrinhos de inveja, vou dançar até amanhecer o dia, no batizado de cumade Bastiana e quando o sol raiá a festa continua aqui em casa.
JASMIRA: Zabé olha só os minino onde estão!
ZABÉ: Mais ispia mermo, ispia só! Se vocês aí tão pensando em brincar, pode ir dispensando. Vou precisar de mais cem calangos.
TONINHO / TARCÍSIO / TADEU: Cem calango!!!
ZABÉ: Isso mermo. Quando eu voltar do batizado, quero fazer calango de côco, calango assado, calango no alho e óleo, calango na brasa, calango a parmegiana, calango alacarte, torta de calango, calango de todo jeito e de toda qualidade. Quero comemorar a prisão daquele esprito zombeteiro. Por isso Jasmira vamo embora pro forró. 

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